3 - Maoístas e bolcheviques


Maoístas e bolcheviques
Mao Tse-tung (1893-1976),
líder comunista e principal
fundador da República
Democrática da China

Particularmente em relação à Revolução Russa, podemos apontar algumas vantagens substanciais que favoreceram a implantação do regime socialista na China. Em primeiro lugar, a base social dos maoístas foi muito mais ampla do que a dos bolcheviques. Atrás das forças do Exército de Libertação Nacional comandado por Mao Tse-Tung encontravam-se milhões de camponeses, de operários, de estudantes e de intelectuais que viam no maoísmo o grande elemento integrador de uma China internamente esfacelada e constantemente saqueada pelas forças estrangeiras.

Já os bolcheviques apoiavam-se na escassa classe proletária urbana russa, que não perfazia mais de 3% da população global do país e praticamente não tinham nenhuma ligação expressiva com os kristiani, os camponeses pobres, nem com os kulaks, os camponeses remediados. Contaram os bolcheviques com bem pouco apoio da intelligentsia - a classe dos intelectuais na Rússia -, mais simpática aos partidos mencheviques, aos dos sociais-revolucionários ou aos liberais, visto que os bolcheviques pareciam tirânicos e autoritários.

Os maoístas ainda tiveram a seu favor o fato de não terem que padecer de uma guerra civil acompanhada de intervenções estrangeiras após a tomada do poder, como aconteceu com os bolcheviques nos anos de 1918 a 1920 na Rússia, quando além de terem enfrentado os exércitos contra-revolucionários dos brancos (ex-czaristas), viram parte do país ser ocupada por tropas inglesas, norte-americanas, francesas e japonesas entre 1919 e 1921.

O estado-maior revolucionário chinês, bem antes de chegar ao poder em 1949, já formava um grupo de calejados militantes que estavam acostumados a trabalhar juntos pelo menos desde a década de 1930. Eles possuíam experiência administrativa, política e militar obtida na gerência dos sovietes de Kiangsi e Shensi, bem ao contrário dos bolcheviques, que praticamente emergiram do exílio, das prisões e da clandestinidade para o exercício direto do poder.

Finalmente, dois outros aspectos fundamentais tornaram menos árdua a estrada dos maoístas na implantação da revolução: em primeiro lugar, contou a seu favor a existência da União Soviética com potencial nuclear - o que desestimulou tentativas mais vigorosas e agressivas por parte das forças contra-revolucionárias internas e externas de tentarem impedir ou protelar as reformas econômicas e sociais. A conseqüência disso para os maoístas foi a existência de um mundo menos hostil para sua política do que aquele que os bolcheviques tiveram que amargar nos anos 1920 e 1930, quando padeceram de um quase total isolamento.

Os maoístas sabiam de antemão o que deviam evitar a partir da simples observação do que ocorrera com a experiência soviética. Desta maneira, a China não conheceu nenhuma coletivização forçada da terra, decretada de cima para baixo, podendo avançar com mais cautela na implantação do seu sistema industrial como na aplicação de uma economia planificada de um modo geral. Quer dizer, a existência de uma experiência socialista na vizinha União Soviética poupou os chineses dos enormes sofrimentos e traumas por que os russos tiveram que passar, pelo menos até os trágicos acontecimentos da Revolução Cultural de 1965 e 1976.

A maior barreira que os maoístas enfrentaram para transformar a China e fazê-la avançar era o imenso atraso de um país essencialmente camponês cujo desenvolvimento tecnológico, científico e educacional (no sentido moderno) era praticamente inexistente.

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