2 - As revoluções socialistas na China


A peculiaridade da Revolução Chinesa (1927 - 1949)

A Revolução Chinesa não resultou de uma abrupta e intempestiva insurreição de massas, como ocorreu na tomada da Bastilha em 14 de julho de 1789, na França absolutista, nem de um surpreendente golpe de estado como aquele que foi dado pelos bolcheviques quando a guarda vermelha proletária e os marinheiros rebelados assaltaram o Palácio de Inverno em São Petersburgo, na Rússia czarista, em 25 de outubro de 1917. A ascensão dos revolucionários conduzidos por Mao Tse-Tung foi o resultado final da mais longa guerra civil do nosso século, entre nacionalistas, liderados pelo general Chiang Kai-shek, e os comunistas.

Esse conflito, iniciado em 1927 em algumas cidades do sul da China, culminou em uma guerra generalizada 20 anos depois, na qual milhões de homens participaram.

Os períodos da guerra civil na China
Tal guerra civil pode ser classificada em três grandes períodos: o primeiro deles vai de 1927 a 1930, quando a estratégia do Partido Comunista chinês orientava-se para o assalto e a ocupação de grandes cidades como Xangai, Cantão (Gengzhou) e Changsha, onde seus seguidores haviam sido derrotados e expulsos, tendo seus quadros urbanos praticamente exterminados pelo exército nacionalista.

O segundo período deu-se entre os anos de 1930 a 1937, quando a liderança do PC chinês concentrou-se em Mao Tse-Tung, ocorrendo com isso uma radical inflexão na estratégia do partido, que tratou de formar e consolidar os chamados "sovietes rurais", tendo por apoio os camponeses do interior da China. Com isso, os comunistas chineses abandonaram do seu horizonte próximo a possibilidade de liderar uma revolução urbana que lhe proporcionasse uma rápida ascensão ao poder. Mao Tse-Tung, apelando para uma das celebradas virtudes chinesas - a paciência -, estabeleceu como estratégia do partido uma luta de longa duração, tendo o aperfeiçoamento de guerrilhas como principal instrumento.

Após serem obrigados a abandonar o primeiro soviete nas montanhas de Ching-Kangshan, das quais os comunistas se retiraram pressionados pela chamada "5ª campanha de extermínio" ordenada pelo General Chiang Kai-shek, que os chamava de "bandidos vermelhos", ocorreu o momento épico da história revolucionária da China moderna: a Longa Marcha. Percorrendo um caminho de aproximadamente 10 mil quilômetros pelo interior do país, entre 1934 e 1935, os comunistas sobreviventes conseguiram abrigar-se no soviete de Yenan, na província de Shensi. Por ser uma região árida e inóspita, ela os protegeu tanto dos ataques dos nacionalistas como da invasão japonesa, que começou em julho de 1937.

Finalmente, o terceiro período da demorada guerra civil ocorreu ao término da Segunda Guerra Mundial, entre 1946 e 1949, quando os guerrilheiros maoístas, depois de travarem curtas batalhas contra o exército nacionalista, desbarataram definitivamente as divisões do General Chiang Kai-shek, expulsando-o do país e fundando a República Popular da China em 1º outubro de 1949.

O caráter nacional e camponês da Revolução Chinesa


A revolução chinesa de 1949 distinguiu-se da Francesa de 1789 e da Russa de 1917 na medida em que as questões nacionais assumiram - sua dimensão anticolonialista - uma importância muito maior que o espírito cosmopolita, universal, imanente ao jacobinismo e ao bolchevismo (onde o nacionalismo encontrava-se subordinado a uma estratégia ideológica internacionalista). Os comunistas chineses, ou maoístas, sinicizaram o marxismo, adaptando-o às circunstâncias de uma nação de camponeses humilhada pelas potências coloniais desde os tempos das Guerras do Ópio (1839-1842).

Outra relevante questão foi a de que a vanguarda revolucionária chinesa possuía estreitas raízes com o campo e interpretavam as aspirações mais profundas daquele imenso continente de camponeses que formava e ainda forma a China dos nossos dias. Quantitativamente, pelo número de pessoas envolvidas, tratou-se da maior revolução social de todos os tempos. Qualitativamente, porém, seu âmbito foi bem mais restrito do que as duas outras revoluções citadas, pois a revolução de Mao Tse-Tung ficou inicialmente circunscrita às fronteiras da China (se bem que com reflexos sobre a Coréia e o Vietnã).

Se os jacobinos e bolcheviques pretendiam ter descoberto a álgebra da revolução válida para a sua época, o maoísmo foi mais modesto, acreditando-se como uma solução revolucionária a ser seguida preferencialmente pelos países colonizados ou semicolonizados do Terceiro Mundo.

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