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quinta-feira, 27 de março de 2025
segunda-feira, 17 de fevereiro de 2025
domingo, 16 de fevereiro de 2025
Quadro de Pedro Américo - A Independência do Brasil
Tenho certeza de que você já se deparou com esse quadro alguma vez. Esta é uma das imagens mais citada no que concerne à história do Brasil. Ela está nos livros didáticos e nas ilustrações de revistas e jornais na ocasião de comemorações referentes ao 7 de Setembro. Com isso adquirimos familiaridade com esta figura dando a ela um “estatuto de verdade”.
Ao olharmos para o quadro, acreditamos que somos testemunhas do episódio que aconteceu em 1822. Não levamos em consideração o que está por detrás deste e de todos os demais quadros: a subjetividade do autor. Todo artista transfere para a sua obra características pessoais, seja na técnica da pintura ou no conteúdo representado. Tais características incluem não só a personalidade do artista, mas também o meio em que ele vive. Assim, um quadro é fruto de diversos fatores que vão além da verdade como “ela realmente aconteceu”. O objetivo deste post é mostrar quais podem ter sido as referências utilizadas por Pedro Américo para pintar o “Independência ou Morte” em 1886-88.
Para começar é importante pontuar que o 7 de Setembro não foi uma data considerada desde o início como marco da independência. Como vimos no post sobre esse tema, a data foi uma conveniência tardia. Segundo alguns historiadores que estudaram esse tema, não há documentação que mencione o tão famoso “grito”. Tanto nas correspondências oficiais, quanto nos jornais da época que relataram o processo de independência não houve citação do 7 de Setembro. Os textos publicados pelos meios de comunicação indicavam outras datas como marco da independência como, por exemplo, o Correio Brasiliense, que escolheu o 1 de Agosto, dia em que D. Pedro I enviou o Manifestos às Províncias do Brasil.
Além disso, o 7 de Setembro também não foi encontrado no relato do viajante Jean-Baptiste Debret*. No entanto, os episódios da Aclamação e da Coroação foram narrados e pintados pelo autor, sendo esse último escolhido para representar a fundação do Império. Tal quadro servia bem como imagem inaugural da fundação do novo país.
Jean-Baptiste Debret. Coroação de D. Pedro I, 1828. In: Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil.
Mas então, de onde surgiu o 7 de Setembro? Em 1826, a imprensa do Rio de Janeiro publicou a narrativa ocular do Padre Belchior Ferreira, na qual o 7 de Setembro ganhava um destaque particular. O relato ganhou força no imaginário popular, pois deu forma e voz à reivindicação paulista de ter sido palco dos principais acontecimentos que levaram à ruptura com o governo português. Além disso, o Padre Belchior apresentava D. Pedro de uma forma mais ativa, descrevendo-o como o responsável por quebrar os laços com Portugal. De certa forma, o relato deu espaço para uma visão heróica de D. Pedro, enaltecendo-o como o legítimo herdeiro dos Bragança que seria capaz de dar continuidade nas mudanças necessárias.
Essa foi a época então das representações majestosas de D. Pedro, inspiradas nas pinturas de Luís XIV, exaltando-se a monarquia e as bem-feitorias do monarca. François-René Moreaux retrata o episódio procurando legitimar o novo governo monárquico através de um ato divino. Diversos personagens estão olhando para o céu, de onde desce um raio de luz que ilumina a cena, enfatizando a ligação do evento com a providência divina.
François-René Moreaux. Proclamação da Independência, 1844. Museu Imperial de Petrópolis, Rio de Janeiro.
Nos anos 70 surgiu uma nova concepção de pintura, impulsionada pelo evento da Guerra do Paraguai. Agora era a vez de registrar e enaltecer a ação heróica. Em 1885, Pedro Américo teve a notícia de que ia ser construído um monumento memorial à Independência na colina no Ipiranga e o pintor se ofereceu para criar um painel para o interior do edifício. Após alguma resistência, a comissão o permitiu.
É muito clara a referência do quadro ao texto do Padre Belchior:
“O Príncipe diante da guarda, [arrancou] do chapéu o laço azul e branco (sic!), decretado pelas Cortes como símbolo da nação portuguesa, atirando-o ao chão, dizendo: – Laço fora soldados! Viva a Independência do Brasil! (…) desembainhou a espada, no que foi acompanhado pelos militares; os paisanos tiraram os chapéus. E D. Pedro disse: – Pelo meu sangue, pela minha honra, pelo meu Deus, juro fazer a liberdade do Brasil. – Juramos, respondemos todos! D. Pedro (…) ficando em pé nos estribos: – Brasileiros, a nossa divisa de hoje em diante será Independência ou Morte! Firmou-se nos arreios, esporeou sua bela besta baia a galopou, seguido de seu séquito, em direção a São Paulo”.
Pedro Américo compôs um quadro que valorizava a imagem de D. Pedro I como líder da Naçãovisando contribuir para a estabilização de um império em crise. Olhemos o quadro: Em segundo plano D. Pedro I levanta a sua espada, em ato simbólico de rompimento com os laços que uniam Portugal e Brasil, seguido por cavaleiros de seu séquito, que saúdam o gesto acenando com chapéus e lenços. No canto inferior esquerdo vemos um caipira que pára o seu carro de boi para observar a cena histórica que acontece no alto da colina. É essa figura que determina onde nós (observadores) temos que centrar.
D. Pedro é representado num patamar mais elevado do quadro dando a entender que ele é um estadista que não mede esforços e sacrifícios para realização de seu ideal, ou seja, é representado como um herói. Frente a frente com D. Pedro há um cavaleiro da sua Guarda de Honra que responde ao Príncipe arrancando de sua farda o laço vermelho e azul que simbolizava a união de Portugal e Brasil.
Pedro Américo deu grande movimento ao quadro, principalmente ao lado direito que corresponde aos cavaleiros da Guarda expressando um misto de ansiedade e tensão que precedeu à proclamação da independência, assim como o entusiasmo com que foi recebida.
No quadro vemos, portanto, representado o desfecho dramático de um acontecimento histórico, concebido como resultado da bravura de um só homem acompanhado da elite e do exército. O “povo brasileiro” representado pelo caipira simplesmente assistiu a tudo o que estava acontecendo.
O quadro contradiz com o momento em que o Brasil estava vivendo. Na década de 1880, o Imperador doente e esgotado lutava para manter vivo um Império em crise. O quadro veio como uma forma de compensar a realidade que saia do controle, sendo bem-vindo naquele momento como uma busca de revitalização da figura do imperador. Assim podemos dizer que o quadro nos diz muito mais sobre o contexto político e social das últimas décadas do século XIX do que da fidelidade aos eventos que levaram à Independência do Brasil.
*Os viajantes eram homens estrangeiros que vinham para as “terras desconhecidas” e montavam uma espécie de diário sobre as características físicas, culturais e sociais desses países. Os seus trabalhos são uma importante fonte de estudos para os historiadores, já que são registros escritos contemporâneos. Jean-Baptiste Debret foi um dos mais importantes viajantes. Veio para o Brasil como a Missão Artística Francesa em 1816 e aqui permaneceu até 1831.
Texto baseado no artigo de Claudia Valladão de Mattos com o título: “Independência ou Morte!” de Pedro Américo: reflexões sobre a construção do imaginário da Independência do Brasil no século XIX.
Dicas:
- DEBRET, Jean-Baptiste. Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil. São Paulo, USP, 1978 (3 volumes)
- LIMA, Valéria. J.-B Debret, historiador e pintor: a viagem pitoresca e histórica ao Brasil (1816-1839). Campinas, Editora da UNICAMP, 2007.
- OLIVEIRA, Cecília. 7 de Setembro. A Independência do Brasil. São Paulo: Companhia Editora Nacional, 2005.
terça-feira, 11 de fevereiro de 2025
terça-feira, 4 de fevereiro de 2025
Cultura Africana
A cultura africana deve ser observada sempre no plural, haja vista sua existência milenar e sua vasta diversidade. Cumpre lembrar que a África não é um país.
A arqueologia aponta a África como o território habitado há mais tempo no planeta. Isso resultou na profusão de idiomas com mais de mil línguas, religiões, regimes políticos, condições materiais de habitação e atividades econômicas.
Atualmente, o continente africano ocupa um quinto da Terra, com mais de 50 países e quase 1 bilhão de habitantes.
Etnocentrismo, Eurocentrismo e Culturas Africanas
É fato conhecido que a história africana foi escrita e contada pelos colonizadores europeus.
Os viajantes, missionários e dirigentes coloniais foram os responsáveis pelos primeiros relatos acerca da cultura dos povos africanos.
Assim, além de serem capturados para alimentarem a escravidão colonial, estes povos foram usurpados em todos os seus direitos, incluindo o de contar a própria história.
O “Etnocentrismo” e o “Eurocentrismo” nas ciências europeias durante o século XIX são os responsáveis pela concepção das culturas africanas.
Nesse viés, elas são consideradas manifestações primitivas ou bárbaras, típicas dos primeiros estágios da civilização.
Hoje, com as independências dos países africanos, há um esforço de recuperação das tradições culturais africanas, bem como a constituição de uma historiografia local.
Aspectos Gerais

As manifestações culturais africanas sofreram uma intensa destruição pelos regimes coloniais, o que leva as nações africanas modernas ao embate com o nacionalismo árabe e ao imperialismo europeu.
Em se tratando de culturas tradicionais, muito se preservou e se difundiu pelo continente africano, especialmente devido aos fluxos migratórios pela África.
Isso permitiu a preservação e a combinação de vários aspectos culturais entre os povos do continente.
Ademais, vale ressaltar também que boa parte destas culturas são baseadas em tradições orais, o que não significa ausência de escrita.
Organização Política
Os povos africanos podem ser nômades e vagarem pelo deserto ou se fixarem em território para construir grandes impérios.
Também podem ser formados por pequenas tribos ou grandes reinos, onde o chefe político e o sumo sacerdote podem ser a mesma pessoa.
Seja governado por clãs de linhagem ou por classes sociais específicas, estes povos irão constituir grandes patrimônios materiais e imateriais presentes até os dias de hoje.
Estes bens refletem a história e o meio ambiente em que se originaram. Por isso, representam aspectos das florestas tropicais, desertos, montanhas, etc.
Religiões Africanas
Em termos religiosos, vários cultos estão presentes na África, com destaque para o islamismo e cristianismo. Além deles, destacam-se as religiões tradicionais, muitas vezes vistas como prática de magia e a feitiçaria.
Considerados pelos europeus como povos animistas, uma parte dos africanos reverenciam os espíritos das árvores, pedras, dentre outros, e aceitam a coexistência com forças desconhecidas.
Cada povo africano tem suas origens mitológicas para explicar suas origens. Estas religiões tradicionais possuem, via de regra, um panteão e estão voltadas ao culto dos antepassados e das divindades da natureza.
A forma mais conhecida destas religiões envolve o culto aos Orixás (divindades de origem Ioruba ou Nagô) e englobam uma ampla variedade de crenças e ritos.
Por outro lado, a vida material e espiritual nas religiões africanas, tendem a indistinção entre o sagrado e o profano. Estas dimensões são concebidas como indissociáveis e inseparáveis.
segunda-feira, 3 de fevereiro de 2025
domingo, 2 de fevereiro de 2025
A violência no Brasil contra os jovens
Se os jovens brasileiros formassem um país próprio, as taxas de homicídio desse país se assemelhariam às das nações com os maiores índices de violência do mundo. É o que aponta o Atlas da Violência 2019, mapeamento das mortes violentas no país feito pelo Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) e pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) com base em dados de 2017, coletados pelo Ministério da Saúde.

E, levando-se em conta apenas os dados da violência contra jovens, o cenário é ainda pior: entre os 65,6 mil de homicídios no Brasil em 2017, mais da metade - ou 35.783 - vitimaram pessoas entre 15 a 29 anos, o que leva o Ipea e o FBSP a falarem em uma "juventude perdida por mortes precoces".
Considerando-se apenas essa faixa etária, a taxa brasileira de homicídios por 100 mil habitantes sobe para 69,9. É equivalente à taxa de homicídios (70) que o Haiti, país mais pobre das Américas, registrou nessa faixa etária em 2015, segundo o dado mais recente da OMS.
E, se compararmos o dado às taxas gerais dos países, o "Brasil dos jovens" fica atrás apenas de nações de extrema pobreza e crise, como Honduras (85,7 mortes por 100 mil habitantes em 2015) e Venezuela (81,4 por 100 mil habitantes em 2018, segundo o Observatório Venezuelano da Violência).
"O Brasil é um país de nível social médio mas, na segurança pública, convive com padrões semelhantes aos dos países mais violentos do mundo e de instituições frágeis", diz à BBC News Brasil Renato Sergio de Lima, presidente e pesquisador do FBSP.
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