Conheça as figuras mitológicas do mundo medieval
Imaginação fértil, medo e religiosidade deram origem a criaturas assustadoras
Texto Marina Ribeiro | 05/02/2014 17h49
Seres do tamanho de ilhas que afundam navios, dragões que
destroem cidades inteiras, monstros devoradores de homens, sereias que
encantam marinheiros, centauros letrados... É difícil compreender que
muitas das figuras mitológicas que conhecemos dos livros um dia
realmente atemorizaram alguém. No entanto, como lembra o historiador
francês Lucien Fèbvre, na Idade Moderna havia "excesso de plantas, de
animais, de corpos minerais, de doenças, de tudo. O possível não se
distinguia do impossível". Sem contar que, durante a Idade Média, a
maior parte do mundo ainda era considerada terra incógnita.Nesse contexto, seres fictícios nutriam as superstições e tomavam forma graças a artistas talentosos e estudiosos da Antiguidade. Santo Agostinho, um teólogo do cristianismo, foi um dos primeiros a perceber a importância dos monstros no imaginário da população. Representações "antinaturais" seriam também, em sua visão, parte do plano divino. Como um adorno do universo para ensinar os homens sobre os perigos do pecado. Mais do que interpretar a presença desses entes, foi papel dos cristãos divulgar a existência de muitos deles - que, a partir dos séculos 12 e 13, passaram a ser frequentes na arte religiosa, considerados, como desejava Santo Agostinho, criaturas de Deus.
Ichthyocentauro |
Entre os seres marinhos da mitologia grega estão os gêmeos Bythos e Aphros, dois ichthyocentauros. Como o nome aponta, eram similares aos centauros, tendo a parte superior do corpo de homem e cauda de peixe. Alguns exemplares usavam coroas, enquanto outros eram representados com chifres parecidos com garras de crustáceos. A falta de informações sobre ele não atrapalhava sua fama: figurava em mapas séculos depois do surgimento de sua lenda. |
Mantícora |
Um animal lendário com cabeça de homem (muitas vezes dotado de chifres), corpo de leão, e cauda de dragão ou escorpião, com várias fileiras de dentes. Ele devorava suas presas inteiras, sem deixar roupas, ossos ou posses para trás. É assim a mantícora, descrita pelo historiador grego Ctésias com base na mitologia persa. Ainda que tenha surgido no Oriente, o ser mitológico era parte do imaginário medieval europeu. O frade André Thévet, um dos autores mais lidos do Renascimento, contou em Cosmografia do Levante seu encontro com a criatura, que descreveu como "um monstro grande como um tigre, mas sem cauda, cuja cabeça era como a de um homem adulto". Outros escritores medievais utilizaram a figura como símbolo do mal. |
Hipogrifo |
O cruzamento entre um grifo (corpo de leão, cabeça e asas de águia) e uma égua gerou o hipogrifo, que acumula as características dos pais, com patas dianteiras de felino e traseiras de cavalo. Grifos e cavalos seriam como cães e gatos, por isso um ditado dos tempos medievais dizia que o acasalamento dos dois seria algo impossível. A primeira referência ao hipogrifo foi feita pelo poeta latino Virgílio, no século 1 a.C. No entanto, o ser foi definido apenas no começo do século 16, pelo também poeta Ludovico Ariosto. |
Leviatã |
Sua primeira aparição foi no Livro de Jó, descrito como um grande dragão que simbolizava o mal. Em outras descrições do Antigo Testamento, é caracterizado sob diferentes formas: dragão marinho, serpente e polvo. No entanto, sua origem é anterior. Na mitologia mesopotâmica já existia Yam, divindade do caos e do mar indomado. Seu inimigo era Baal, o rei do céu. Como desejava ascender aos deuses e é o representante do caos, seu equivalente mais próximo é o diabo. Em uma passagem do texto De Mundi Celestes Terre Risque Constitutione, do século 12, afirma-se que rodeava o mundo nos extremos do oceano. |
KraKen |
O morador do oceano era conhecido por afundar navios. Habitava o Mar da Noruega, que separa a Islândia das terras escandinavas, em regiões repletas de peixes para saciar seu imenso apetite. Pescadores procuravam justamente esses lugares, mas fugiam ao primeiro sinal de movimentação da criatura. Uma das teorias é a de que a lenda tenha surgido com base na observação de lulas gigantes, já que em sua descrição mais comum o kraken era caracterizado como sendo do tamanho de uma ilha e possuidor de 100 braços. |
Tarasca |
A cidade francesa de Tarascon era assolada por ela no início do primeiro século. Espécie de dragão com pernas curtas e garras enormes como as de um urso, acopladas a um corpo de boi coberto com uma carapaça de tartaruga de espinhos curvos e cauda longa e escamosa, que termina com um ferrão de escorpião. Para completar tinha cabeça de leão, mas com rosto de um velho amargo e triste. A besta não podia ser destruída pela força humana ou das armas. Até que uma menina decidiu ir atrás dela com sua fé. De posse de dois gravetos em cruz, borrifou água benta no dragão, que parou de cuspir fogo. Então a garota cortou os próprios cabelos e utilizou as tranças como coleira para levar a Tarasca de volta à cidade. Ao chegar, os habitantes mataram a criatura inerte a pedradas, para tristeza da menina. |
Comentários
Postar um comentário