REDES SOCIAIS A SERVIÇO DA EDUCAÇÃO
Mais
de 5 milhões de estudantes brasileiros já pertencem a uma rede social
na internet, como o Facebook ou o Twitter. A novidade é que, agora,
parte deles começa a frequentar esses círculos virtuais estimulados pela
própria escola - e com fins educativos. Alguns colégios, a maioria
particular, fazem uso simples de tais redes, colocando ali informações
como calendário de aulas e avisos. Muitas vezes, incluem ainda
exercícios e o conteúdo das aulas, recurso que vem se prestando a
aproximar os pais da vida escolar.
O
maior avanço proporcionado por esses sites, no entanto, se deve à
possibilidade que eles abrem para o aprendizado em rede - o que já
acontece há mais tempo, e com sucesso, em países como Japão e
Inglaterra. No espaço virtual, os alunos debatem, sob a supervisão de um
professor, temas apresentados na sala de aula e ainda, de casa, podem
tirar dúvidas sobre a lição.
O
Twitter está sendo também adotado nas escolas por uma de suas
particularidades: como nenhum texto ali pode ultrapassar 140 caracteres,
os alunos são desafiados a exprimir ideias com concisão - habilidade
revelada por grandes gênios da história e tão requerida nos tempos
modernos. A experiência tem funcionado no Colégio Hugo Sarmento, de São
Paulo, onde os estudantes se lançam em animadas gincanas das quais saem
campeões aqueles com o maior poder de síntese. Conclui o professor de
português Tiago Calles: "As redes fazem parte da vida deles. Não há como
a escola ignorá-las".
Esse
já é um consenso. O que se discute é como fazer uso seguro - e
produtivo - das redes. Entre os sites de relacionamento, o Twitter
agrada às escolas justamente por preservar, ao menos em parte, a
privacidade dos alunos: é preciso nome de usuário e senha para tomar
parte dos encontros on-line promovidos pelo colégio. Todo o conteúdo que
resulta daí, porém, fica disponível na internet e qualquer um pode ver.
Preocupadas
com isso, muitas escolas preferem criar redes próprias, que funcionam
como uma intranet. "Evitamos assim a exposição dos alunos e temos
condições de nos responsabilizar pelo que acontece na rede", explica
Eduardo Monteiro, coordenador no Colégio Santo Inácio, do Rio de
Janeiro, onde há um ano os alunos participam de debates virtuais que
abarcam todas as disciplinas.
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Outro
perigo do ambiente virtual, este de ordem pedagógica, diz respeito ao
tipo de linguagem que os alunos tendem a usar na rede, bem distante da
norma culta. Não é fácil estimulá-los a empregar o bom português nesse
contexto. Avalia Adilson Garcia, diretor do Colégio Vértice, em São
Paulo: "Em atividades on-line, damos o exemplo aos estudantes,
respeitando a pontuação e fugindo do coloquial - mas eles costumam
escrever muito mal".
De
todos os desafios, no entanto, talvez o mais difícil seja tornar o
ensino em rede algo realmente eficaz. Nos Estados Unidos, por exemplo,
algumas escolas que haviam aderido à modalidade se viram forçadas a
voltar atrás. Quando os exercícios ocorriam nos domínios do colégio,
verificou-se que os estudantes tinham o hábito de engatar em chats e
navegar por sites de fast-food enquanto a aula virtual se desenrolava -
um fiasco. Com base na experiência internacional, já se sabe um pouco do
que funciona nesse campo. A mais bem-sucedida de todas as medidas tem
sido colocar as crianças para compartilhar projetos de pesquisa em rede,
reproduzindo assim (ainda que em escala bem menor) o que se vê nos
melhores centros de pesquisa do mundo.
O
Brasil está começando a adotar as redes virtuais no ensino com pelo
menos cinco anos de atraso em relação a países da OCDE. O conjunto de
experiências brasileiras, até agora, parece apontar para a direção certa
- mas requer avanços. "É preciso integrar melhor o uso das redes ao
currículo escolar. Sem isso, os efeitos serão modestos ou nulos",
pondera José Armando Valente, do Núcleo de Informática Aplicada à
Educação da Unicamp.
Para
executar tarefa de tamanha complexidade, antes de tudo é necessário que
as escolas disponham de uma equipe de professores bem treinados, artigo
raríssimo num país que acumula tantas deficiências nesse setor. Por
completa inexperiência, muitos deixam os computadores acumulando pó e,
quando fazem uso deles em sala de aula, é para dar burocráticas lições
de informática. Há, portanto, um gigantesco caminho a percorrer - e isso
deve ser feito logo.
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