Tipos de utopias políticas

Como projeções de um futuro melhor, as utopias políticas são construídas sempre a partir de algum tipo de insatisfação com as condições da existência social presente - e, para se concretizarem, estabelecem formas de ruptura com a ordem social.
Historicamente, as utopias políticas se diferenciam pela predominância de alguns elementos que apontam para a construção de uma sociedade futura às vezes mais justa, às vezes mais pacífica e às vezes mais abundante.

Platão
Os exemplos do pensamento utópico são muitos. Na Grécia Antiga, o caso mais notável e influente de pensamento político utópico é a obra do filósofo Platão (428-347 a.C.), denominada A República. Platão foi um severo crítico da democracia e dos valores e princípios éticos em vigor na comunidade grega em que viveu.
Em contraposição ao contexto social em que vivia, Platão idealizou uma organização social altamente hierarquizada, seguindo o esquema de divisão tripartite (filósofos, guerreiros e artesãos), mas considerada por ele fundamental para a construção de uma ordem social na qual o paradigma da perfeição seria o elemento norteador da existência de uma coletividade plenamente harmônica e fraterna.

Marx
Um outro exemplo de utopismo político, mas de origem moderna (porém bastante influente até os dias de hoje), é o pensamento do filósofo Karl Marx. Partindo de uma crítica ferrenha ao modo de produção capitalista, Marx idealizou uma sociedade na qual a socialização (por meio da abolição da propriedade privada e da criação da propriedade coletiva) dos meios de produção seria o meio para se estabelecer o igualitarismo pleno.
Na perspectiva do pensamento marxista utópico, o comunismo seria a última etapa da consolidação de uma sociedade justa e igualitária, etapa em que inexistiria qualquer tipo de contradição e conflito social.

Utopia e mudança social
Como fontes de discursos ideológicos que contemplam projeções sobre um futuro melhor, a partir da criação de uma nova organização social, as utopias políticas têm, historicamente, se transformado em projetos e justificativas para a ação reformadora ou revolucionária.
O pensamento marxista, por exemplo, ao conceber uma sociedade comunista a partir da ruptura com a sociedade capitalista, chegou a influenciar inúmeros movimentos revolucionários e de reforma que deixaram profundas marcas na história dos séculos 19 e 20.

Deve-se levar em conta também que as utopias políticas têm enorme capacidade de se materializar, mas apenas parcialmente. Ou seja, o pensamento utópico pode ser rejeitado na sua totalidade, mas sobrevive devido à aceitação de alguns de seus elementos ou princípios norteadores.
O exemplo do marxismo pode ser novamente mencionado, pois, embora a sociedade comunista idealizada por Marx nunca tenha sido construída (e deixou de ser almejada no mundo contemporâneo), ainda assim, o marxismo produziu incontáveis movimentos de reforma que alteraram o funcionamento das sociedades capitalistas.
Outro exemplo notável nos remete ao filósofo francês, Jean-Jacques Rousseau (1712-1778), cujos ideais utópicos de organização do poder político, expostos em sua obra clássica, O Contrato Social, fundamentaram doutrinas jurídico-políticas que sustentam a legitimidade do Estado moderno.
 
*Renato Cancian é cientista social, mestre em sociologia-política e doutorando em ciências sociais. É autor do livro Comissão Justiça e Paz de São Paulo: gênese e atuação política - 1972-1985.

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