Fome na África: Na Somália, problema atinge quase metade da população

Seca, guerras civis, restrições à ajuda humanitária e caos político resultaram numa crise de fome que afeta 12,5 milhões de pessoas que vivem na região conhecida como Chifre da África, que inclui Djibuti, Etiópia, Quênia, Somália e Uganda. A epidemia de fome já é considerada a pior deste século.

Direto ao ponto: Ficha-resumo

A situação é mais grave na Somália, onde 29 mil crianças morreram nos últimos três meses – uma média de 300 por dia – e 640 mil estão subnutridas, podendo morrer nos próximos meses. Cerca de 3,2 milhões de somalianos (quase metade da população) dependem de doações de alimentos para sobreviver.
A ONU (Organização das Nações Unidas) decretou crise de fome no país em 20 de julho. O estado de emergência é declarado quando a fome atinge 20% das famílias e o índice de subnutrição ultrapassa 30% da população infantil. Na região de Bay, uma das seis em estado crítico na Somália, a taxa de desnutrição entre crianças é de 58%, a mais alta no país.
Desde os anos 1980, foi a primeira vez que a ONU declarou crise de fome no continente africano. Todos os dias, centenas de pessoas partem de suas cidades em direção a acampamentos improvisados na capital, Mogadíscio, e nos arredores. As barracas já abrigam 400 mil somalianos.
Campos de refugiados mantidos pela ONU como o de Dadaab, na fronteira com o Quênia, tornaram-se refúgio para os exilados. O campo foi criado em 1991 para receber refugiados da guerra civil da Somália e hoje é o maior do mundo, com 440 mil pessoas. Desde o começo do ano, recebeu mais 170 mil refugiados por conta da fome, e o número aumenta a cada dia.
A estiagem no Chifre da África é a mais severa dos últimos 60 anos. A seca prejudicou a produção de alimentos, reduzida a um quarto do necessário para alimentar a população. Estudos apontam que o aquecimento global teria agravado o período de seca, comum nessa região africana.
Entretanto, as condições climáticas não são responsáveis pelas mortes na Somália. Organização política, técnicas de irrigação e doações poderiam ter evitado a tragédia. A guerra civil, em curso no país há duas décadas, impediu que tais medidas fossem adotadas a tempo.

Sem governo

A Somália não possui governo desde 1991, quando o regime de Siad Barre foi derrubado por milícias armadas, dando início a uma guerra civil. Um governo provisório foi instaurado em 2004, mas não foi reconhecido pelas milícias e nem pela própria população. O país é considerado um dos mais pobres e violentos de todo o mundo.
Dois anos depois, o grupo islâmico Al Shabab, filiado à Al Qaeda, passou a controlar a região sul, hoje a mais atingida pela fome. Os guerrilheiros impedem que os somalianos recebam mantimentos de agências, como a Cruz Vermelha Internacional, e que saiam de suas cidades de origem. A guerra também destruiu a infraestrutura do país, dificultando o acesso às áreas mais críticas.
Além dos conflitos, questões políticas impediram a chegada de parte das doações aos refugiados. O governo dos Estados Unidos, maior fonte de financiamento de agências humanitárias, teme que verbas sejam desviadas para facções islâmicas que mantém relações com a Al Qaeda.
O governo brasileiro anunciou o envio de quase 72,5 mil toneladas de alimentos à Somália, Etiópia e Quênia. O Brasil está entre os dez maiores doadores de fundos para os países africanos assolados pela fome.


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