Política - Invicto
Símbolo da luta contra o apartheid, Nelson Mandela tornou-se o
próprio rosto da superação ao não seguir o caminho da retaliação e
pavimentar a conciliação entre brancos e negros na África do Sul - mesmo
depois de 27 anos de cárcere
Experimente digitar "Nelson Mandela" no campo de busca de uma loja
virtual. O resultado serão livros com títulos repletos das palavras
"luta", "revolução", "liderança", "lições", "longo caminho", "liberdade"
e "coragem". Enfim, se há um rosto para sintetizar a "superação", ele
pertence a esse sul-africano de 93 anos, presidente de seu país de 1994 a
1999 e símbolo da luta contra o apartheid, o odioso regime de
segregação racial, oficialmente em vigência na África do Sul entre 1948 e
1994.
O jovem Mandela nasceu protegido no seio da corte da
tribo Tembu, 30 anos antes da institucionalização do apartheid. Ainda em
1938, Mandela começou a estudar Direito na Universidade de Fort Hare,
frequentada por alunos de famílias aristocráticas negras ou com boas
notas nas escolas missionárias. Mas foi expulso após desentendimentos
com o reitor. O rei dos Tembu, furioso, decidiu arranjar um casamento
para ele e para um primo. Os dois ficaram inconformados e fugiram para
Johanesburgo. Foi somente então que começou a se delinear o Mandela que
conhecemos.
Na maior cidade do país, foi vigia noturno em uma
mina de carvão e morou em barracos sem luz. Enquanto isso, retomou em
1942 os estudos na Universidade de Witwatersrand, onde teve de ouvir de
um professor que negros não eram bons o suficiente para se tornar
advogados. Não só Mandela exerceu a profissão como montou o primeiro
escritório negro de advocacia do país, com seu amigo Oliver Tambo
(1917-1993), que, durante o cárcere de Mandela, comandaria o Congresso
Nacional Africano (CNA), partido fundado em 1912 para defender o direito
de negros. Nos tribunais, ao ver que a balança da justiça pendia para
os brancos, foi solidificando uma inevitável consciência política.
Em
1944, afiliou-se ao CNA. E, passados 4 anos, viu o apartheid ser
instalado. A essa altura, já ascendia nos escalões do partido. A
princípio, defendia a não-violência, na linha da desobediência civil de
Gandhi. Mas em 1961, diante do incremento da repressão dos brancos e do
banimento do CNA, fundou a Lança da Nação, braço guerrilheiro do
partido. Foi decretado terrorista pelo governo. Entrou na prisão aos 44,
em 1962, e saiu aos 71, em 1990.
A experiência em lugares como a
Ilha Robben, o presídio que atualmente é atração turística na costa da
Cidade do Cabo onde permaneceu entre 1964 e 1982, modelou o homem como o
conhecemos hoje. Sintoma desse processo é a descrição do líder na
juventude feita por Oliver Tambo. Ele via no companheiro um sujeito
"entusiasmado, emotivo, sensível, facilmente melindrado ao rancor e à
retaliação pelo insulto e pela condescendência". Mais contrário à figura
pública sorridente, equilibrada e reconciliadora, impossível.
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