O Centenário do Bombardeio da Cidade de Salvador

No último dia 10 de janeiro de 2012 completou-se 100 anos da ocorrência de um dos episódios que marcaram a história da Bahia, o Bombardeio da Cidade de Salvador pelas tropas federais comandadas pelo gal. Sotero de Menezes, imbuindo de uma ordem federal, em vista da disputa política pelo governo do Estado da Bahia.

Em meio ao processo de implantação da “política das salvações” pelo presidente marechal Hermes da Fonseca (1910-1914), que consistia em intervenções militares com o objetivo de destituir do poder as oligarquias locais – colocando militares ou indicando civis para as interventorias – que o governador João Ferreira de Araújo Pinho deixou o cargo alegando motivos de saúde em 22 de dezembro de 1911, cerca de um mês antes do pleito ao governo do estado.

O sucessor constitucional ao governo, o presidente do Senado Estadual padre Manoel Leôncio Galrão, recusara a investidura alegando problemas de saúde, assumindo então o presidente da Câmara legislativa, o deputado Aurélio Vianna. No entanto, essa transição dever-se-ia ocorrer caso o Legislativo aceitasse a renúncia de Araújo Pinho, o que não ocorreu. De todo modo, Aurélio Vianna assumiu o governo a revelia, e prontamente decretou a transferência da Câmara legislativa para Jequié, o que garantiria a diplomação dos deputados situacionistas e adiaria a eleição do pleito ao governo de janeiro para maio; e a ocupação da Câmara legislativa pela polícia. Segundo o historiador e ex-governador Antonio Ferrão Moniz de Aragão (1916-1920) em sua obra de referência A Bahia e os seus Governadores na República (1923) – recentemente lançada edição fac-simile pela Fundação Pedro Calmon (2010) – Ruy Barbosa temia que a sucessão ocorresse num período em que o Congresso Nacional estivesse em férias, pois dessa forma o Governo da União poderia agir de forma incisiva. Tal ação levou a oposição, em sua maioria seabrista, a crer que se tratava de articulação para derrotar a candidatura de J. J. Seabra, ministro da Viação e Obras Públicas. Prontamente recorreram à Justiça Federal, obtendo do juiz Paulo Fontes mandado proibitório, o que garantiria a reintegração das atividades preparatórias, e posteriormente Habeas-corpus que garantiria livre acesso dos parlamentares ao plenário, ambos não acatado e contra-argumentado pela situação.

Para garantir a execução da ordem federal, o presidente da República, através do ministro da Guerra gal. Mena Barreto, ordenou que: “para, com a força, prestigiar a decisão da justiça federal”. Na manhã do dia 10 de janeiro de 1912, o inspetor da 7ª Região Militar gal. Sotero de Menezes enviou ao Palácio das Mercês, residência oficial do governador, uma comissão de oficiais para negociar a desobstrução da Câmara, mas sem sucesso. Diante da intransigência do governo em obedecer à ordem federal, foram distribuídos no final da manhã folhetins nas ruas do centro da cidade informando a população a situação, e que caso o governo não atendesse à ordem federal, faria “respeitar e executar essa ordem, pela intervenção da força sob o seu comando, intervenção a que dará início dentro de uma hora”, registra o folhetim. O prof. Dr. Luís Henrique Dias Tavares informa em sua História da Bahia que conforme anunciado, por volta das 13h40 o forte de São Marcelo efetuou dois disparos municiados com pólvora seca, como forma de aviso de que seriam iniciadas ações efetivas, e às 14h, os canhões do forte de São Marcelo e forte do Barbalho municiados com projéteis alvejaram o Palácio Rio Branco, a Câmara Municipal, o Teatro São João (local hoje ocupado pelo Palácio dos Esportes, na Praça Castro Alves), sobrados da Rua Chile e o quartel da cavalaria da Polícia Militar, nos Barris.

Walter Jorge Oliveira da Silva, coordenador do Centro de Memória da Bahia

Referência Bibliográfica


ARAGÃO, Antonio Ferraz Muniz de. A Bahia e seus governadores na República. Bahia: Imprensa Oficial do Estado, 1923.

SÁ, José de. O bombardeio da Bahia e seus efeitos: registro político e histórico. Salvador: Oficinas do Diário da Bahia, 1918.

SAMPAIO, Consuelo Novais. Poder e Representação: o Legislativo da Bahia na Segunda República, 1930-1937. Salvador: Assembleia de Comunicação Social, 1992.

TAVARES, Luís H. D. História da Bahia. 10 edição. Salvador/São Paulo: Edufba/Fundação Editora da UNESP (FEU), 2001.




Saiba mais:

Artigos

O Bombardeio da Bahia de 1912

O Bombardeio de Salvador em 1912 | O Olhar Senhorial e a Disputa de Poder

Dissertação

A Raposa e a Águia: J.J. Seabra e Rui Barbosa na Política Baiana da Primeira República


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10 de janeiro de 1912: o Bombardeio da Cidade de Salvador

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